Gostaria de começar esse texto com uma pequena história sobre um publicitário residente em uma grande cidade. Todos os dias ele acorda cedo, muito antes do seu horário de trabalho.
Ele levanta, se arruma, toma seu café e sai andando a passos largos na rua em direção ao metrô. São 6h30min da manhã, o metrô já se encontra lotado, é um empurra-empurra, pessoas subindo e descendo nas estações.
Ele aproveita para checar seu celular, talvez dê tempo de responder algumas mensagens, adiantar o trabalho ou simplesmente matar o tempo.
Quando se dá por conta, a sua estação já é a próxima. Ele desembarca e anda mais algumas quadras até chegar ao requintado prédio onde trabalha no escritório do 10º andar. Muitas pessoas também estão chegando para trabalhar, o elevador tem fila, ele já pode observar que um de seus clientes também está aguardando para subir.
O atendimento já começa no corredor, mal dá tempo de chegar ao escritório. Quando chega já o chamam, o telefone toca, os papéis já se encontram sobre sua mesa aguardando alguma definição, assim como a caixa de e-mails que deve estar abarrotada.
O que o dia de trabalho lhe promete? Muitas tarefas intermináveis e aquelas que não forem urgentes ficarão para o próximo dia e assim sucessivamente.
A história contada pode ser aplicada a grande maioria dos trabalhadores com algumas adaptações. O mundo atual é dinâmico, rápido e caótico; as pessoas estão sendo constantemente convidadas a realizar alguma coisa.
Não há espaço para o ócio, o smartphone é a maior distração e a mente permanece ocupada por um bom tempo.
A alta demanda de tarefas e a ocupação mesmo nos momentos de ócio não é “privilégio” apenas das pessoas residentes em grandes centros, mas também daquelas que residem no interior.
No Brasil, a carga horária permitida por lei é de 44h semanais e 8h por dia. Entretanto, existem trabalhadores por escala que “pernoitam” no trabalho e também trabalhadores com mais de um emprego que acabam por extrapolar a carga horária de trabalho.
A carga de trabalho também costuma ser elevada para determinadas profissões.
Tudo isso, somado a uma rotina pessoal estressante, gera o colapso do trabalhador moderno.
Lá pelos anos 1974, um psicólogo chamado Herbert Freudenberger realizou um estudo com voluntários da área da saúde em uma clínica para viciados e sem-teto em Nova Iorque. Ele observou que no começo os voluntários não sentiam grande impacto no trabalho que realizavam e se sentiam gratos.
No entanto, o cenário mudou após a exposição prolongada a rotinas estressantes e tarefas árduas. Logo, os profissionais estavam sofrendo intensa desmotivação e desgaste emocional, situação a qual o psicólogo nomeou como Burnout.
A Organização Mundial da Saúde-OMS, define Burnout como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrada com êxito”
Três fatores classificam o distúrbio:
● Sentimento de negativismo e distanciamento mental do trabalho;
● Esgotamento de energia;
● Redução da capacidade profissional.
Estresse momentâneo no trabalho é normal, não basta ter ansiedade devido à entrega de um novo projeto ou uma discussão com o chefe para caracterizar Burnout.
A síndrome ocorre devido à exposição a uma rotina estressante e com grande responsabilidade por um período contínuo de tempo.
Quanto maior é a cobrança em relação às atividades no trabalho, ambientes muito competitivos sob pressão em todos os lados, mais propensos os profissionais estarão a desenvolver Burnout.
A síndrome de Burnout pode provocar diversos sintomas que afetam o profissional em aspectos físicos, mentais e a sua capacidade de produção no trabalho. Veja a seguir alguns sintomas:
No campo mental o profissional sente-se esgotado e é comum que possa sentir:
● Dificuldade em se concentrar;
● Falta de memória;
● Cansaço mental;
● Alterações repentinas de humor;
● Fadiga.
No campo físico o profissional pode sofrer com diversos problemas devido à síndrome de Burnout, tais como:
● Dor de cabeça frequente;
● Pressão alta;
● Dores musculares;
● Alterações nas batidas do coração;
● Fadiga;
● Azia ou dores estomacais frequentes.
Os sintomas mentais e físicos da síndrome impactam sobre o rendimento profissional.
Desse modo, o profissional começa a ter dificuldade em se organizar, perde prazos e sua produtividade cai.
Alguns profissionais diante disso começam a faltar ao trabalho, caracterizando o absenteísmo.
A síndrome de Burnout não surge de uma hora para a outra. Ela começa com sintomas leves, principalmente nas atividades relacionadas ao trabalho.
Se as causas não forem tratadas, a síndrome se intensifica levando à ansiedade intensa e depressão.
O psicólogo Herbert Freudenberger e a psicóloga Gail North elencaram 12 estágios da síndrome de Burnout. Vejamos a seguir:
A pessoa com Burnout percebe que não está dando conta de todo o seu trabalho e por esse motivo, ela começa uma luta para provar que consegue realizar e possui valor.
Existem profissionais que não conseguem desligar do trabalho, checam e-mails e realizam horas extras sem que seja solicitado. Esses indivíduos possuem uma sensação de que nunca conseguem terminar as suas tarefas.
O trabalho se torna tão prioritário que o profissional poderá deixar suas necessidades básicas de lado, não se alimenta bem, não realiza a pausa para o café, entre outras situações.
O indivíduo percebe que seu próprio comportamento mudou, mas evita falar sobre isso. Nega que esteja passando por algum problema.
O profissional se torna apenas um trabalhador, deixa de lado seus sonhos, seus momentos de relaxamento e desconsidera os próprios valores pessoais.
Nesse estágio, a pessoa enxerga apenas as realizações profissionais como parâmetro de sucesso e autoestima.
O indivíduo se torna intolerante, somente o que ele faz é relevante, se cobra demais e acredita que os colegas de trabalho não dão o suficiente pelas suas carreiras.
O comportamento fica evidente e os colegas começam a fazer comentários sarcásticos e evitar o colega intolerante e viciado em trabalho.
Não existe atividade social para a pessoa que sofre da síndrome de Burnout, como ela vive em função do trabalho, ela se autoabandona e abandona as pessoas ao seu redor.
Por não conseguir se desligar do trabalho pode recorrer a elementos como álcool e drogas.
Uma pessoa que antes era alegre começa a ficar depressiva e apática. Ao contrário também pode acontecer, tímidos podem se tornar falantes. De modo geral, as mudanças são facilmente percebidas por aqueles que a conhecem.
Confusão instaurada, a pessoa não sabe mais quem ela é, quais são seus valores, interesses e necessidades.
O indivíduo já perdeu o contato real com as pessoas, não sente mais realização no trabalho, vive e age mecanicamente.
Pode desenvolver hábitos compulsivos, ingerindo bebidas, recorrendo a drogas ou comendo excessivamente.
O vazio continua lá, a vida deixa de fazer sentido, perde total interesse por tudo. A pessoa está perdida, cansada e sem esperança.
A síndrome de Burnout em grau máximo instaura o caos na vida da pessoa. É adoecimento físico e mental que por fim culmina na perda de sentido da vida acompanhada de ideias suicidas.
A síndrome de Burnout pode atingir qualquer pessoa, do profissional de tarefas operacionais até os gestores e CEOs.
O indivíduo acha que não tem competência para realizar suas atividades e também manifesta dor de cabeça e insônia. A qualidade do trabalho cai na empresa e dependendo da função executada pelo membro afetado pela Burnout, pode haver sérios comprometimentos para a empresa e até gerar problemas financeiros.
A chance de cometer erros aumenta, assim como podem acontecer acidentes de trabalho devido ao modo piloto automático no qual entra a pessoa com Burnout.
O diagnóstico da síndrome de Burnout pode ser realizado por um profissional especializado, tal como psicólogo ou psiquiatra.
O diagnóstico inclui entrevistas clínicas, testes e avaliações psicológicas do paciente.
Algumas vezes fica difícil diferenciar o Burnout da depressão, afinal a síndrome costuma desencadear a depressão.
Mas a síndrome de Burnout é uma decorrência do trabalho, envolve a ilusão pelo trabalho, a indiferença pelas suas tarefas e o desgaste psicológico.
A síndrome de Burnout nasceu nos ambientes corporativos, portanto, exige uma atenção especial dos gestores.
Conforme o primeiro estudo do psicólogo Herbert Freudenberger apontou, a rotina estressante e as tarefas árduas por um período prolongado levam ao esgotamento do profissional.
Por esse e outros motivos é necessário repensar como o trabalho é distribuído entre os membros da empresa, em como ele é cobrado e também por quanto tempo as pessoas precisam laborar.
É necessário adicionar pausas ou até locais de descanso quando os trabalhadores laboram por longos períodos.
O setor de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas da empresa poderá contribuir para o cuidado dos profissionais para evitar a Burnout. A síndrome não precisa ser sinônimo do fim da carreira na empresa, já que muitos profissionais costumam largar o trabalho nesse momento.
A empresa pode ser o ponto de acolhimento e auxiliar no encaminhamento do profissional a um tratamento especializado.
Uma forma eficaz de tirar o profissional de seu estado de piloto automático é promover a autoconexão e a conexão entre os pares.
Uma experiência mindfulness, por exemplo, serve muito para essas ocasiões e nessa prática existe o estado de atenção plena para se dedicar apenas a uma coisa, o momento presente. Se não souber como realizar a prática na sua empresa, contrate uma empresa especializada.
A Vinho Tinta oferece para sua empresa uma incrível experiência mindfulness através da pintura e do vinho. É uma experiência que conecta a pessoa à própria essência, fazendo-as lembrar da última vez em que se permitiram pintar.
Uns pequenos goles de vinho ajudam a tornar a experiência mais fluida.
Pintar, estimular a criatividade, conversar com os colegas, rir e viver um momento único de conexão.
Por mais que o trabalho ocupe boa parte do seu tempo, lembre-se de que existem outras coisas que merecem seu tempo e atenção.
A preocupação com o trabalho e a carreira não deve ser maior do que a preocupação consigo mesmo. Por mais que alguém seja apaixonado pelo que faz, é necessário estabelecer limites saudáveis entre as atividades pessoais e ocupacionais.
O lazer é tão importante na vida quanto o trabalho!
Embora no ambiente corporativo muitas vezes a pressão e a cobrança sejam altas, o profissional deve compreender até que ponto pode ir. Caso contrário cairá na questão de: quanto mais faz, mais a empresa quer que seja feito.
É necessário estabelecer limites, o autoconhecimento serve para isso. Quando o profissional se conhece, ele não ultrapassa os próprios limites e responde de forma coerente àqueles que os questionam ou pressionam.
O ambiente corporativo possui conflitos e cobranças, entretanto o profissional tem que entender que não consegue ser bom em tudo e que a perfeição não existe.
Trocar a mentalidade de erro e culpa para uma mentalidade de aprendizado e contentamento, de que se fez o que podia ser feito, pode ser uma boa saída.
Existem ideias muito divulgadas por gurus da nova era que dizem algo como “trabalhe enquanto eles descansam…”, se levada ao pé da letra, o profissional estará em constante alerta e trabalho, sempre pensando que pode fazer mais.
A sobrecarga, seja ela qual for, não pode ser glamourizada. O fato de uma mãe de família solteira trabalhar fora por oito horas seguidas, cuidar da casa nas horas de lazer, cuidar dos filhos, pagar as contas, pegar duas conduções para o trabalho e deixar os filhos na escola, não faz dela uma super mulher; mas sim uma pessoa sobrecarregada.
Recomenda-se:
● Manter uma rotina saudável de sono de pelo menos oito horas por noite;
● Participar de atividades de LAZER com amigos e família;
● Realizar atividades fora da rotina, passear, caminhar, comer fora;
● Ter com quem conversar coisas que não seja trabalho;
● Realizar alguma atividade física com regularidade;
● Evitar o consumo de cigarro, bebidas alcoólicas e outras drogas lícitas ou ilícitas;
A síndrome de Burnout é um problema sério de saúde mental que gera ideias suicidas. No seu auge, pode levar a pessoa a cometer o suicídio.
Em muitos casos, é possível diagnosticar e buscar ajuda, a própria pessoa pode perceber que há algo errado com ela e decidir buscar ajuda para sair do sofrimento.
Quem um dia passou pela síndrome de Burnout teme retornar a ela. Nesse sentido, é necessário realizar uma verdadeira mudança de vida.
Algumas pessoas mudam de emprego para realizar algo que tenha mais afinidade na vida e com isso também mudam suas atitudes.
Após o Burnout, o lazer, a prática dos hobbies pessoais e o convívio com amigos e familiares passa a ter uma maior importância. Não somente para cumprir protocolos, mas porque é isso, entre outras coisas, que evita que a pessoa entre em colapso novamente.
Questões de saúde mental ainda estão envoltas em tabus, por isso muitas pessoas e empresas preferem negar a sua existência a assumir políticas que melhorem o ambiente corporativo.
É fato que pequenas mudanças nas estruturas corporativas e na maneira como os trabalhos são realizados e cobrados fazem uma enorme diferença na experiência de trabalho de cada pessoa na empresa.
Tudo que gera desconforto precisa ser avaliado para ser ressignificado, portanto cada empresa deve olhar para si mesma e perceber de que maneira pode conduzir situações como essas.
Para além do trabalho é necessário também observar como as pessoas têm conduzido suas vidas. Há pouco espaço para o ócio e o lazer.
O pouco que ainda se tem não é investido com qualidade. Além de rever questões organizacionais, é necessário compreender qual caminho cada indivíduo segue em sua própria vida.
